quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Equívocos comuns sobre a História do Aikido




Foi este o título que o historiador de aikido, fundador e editor do Aikido Journal, Stanley Pranin, deu numa publicação recente no seu site.

Lançou a pergunta aos leitores se já tinham ouvido ou lido alguma das afirmações que de seguida enuncia, deixando a dica que elas são erróneas (algumas, pelo menos). Gerou alguns comentários interessantes.

Mas ele bem avisa que a visão do Aikido Journal - em publicação há mais de 37 anos - não é a mainstream, a mais ortodoxa. No entanto, o trabalho levado a cabo por Stanley Pranin é absolutamente extraordinário. São toneladas de artigos, vídeos, entrevistas e mais diverso material relativo a esta arte marcial japonesa.

Se a história do aikido fosse ensinada num qualquer curso universitário era certinho que havia matéria de estudo para, no mínimo, dois semestres.

Algumas das afirmações lançadas por Stanley Pranin, num jogo engraçado com os leitores, foram as seguintes:

2. Morihei Ueshiba aprendeu com Sokaku Takeda somente durante um curto tempo. Daito-ryu foi uma das várias antigas artes marciais que influenciaram o aikido. Morihei criou o aikido a partir de diversas origens técnicas, não sendo o Daito-ryu a principal.
Sokaku Takeda

Aparentemente, falso, no que concerne ao taijutsu, as técnicas sem armas. Segundo parece toda a panóplia técnica do aikido deve em muito ao Daito-ryu, fundado por Sokaku Takeda, que chegou a ter M. Ueshiba como aluno. O que O'Sensei fez ao nível técnico foi melhorar e evoluir a antiga arte de Takeda, pelo menos inicialmente.

4. O filho de Morihei, Kisshomaru, foi preparado para suceder ao seu pai desde a infância.

Dificilmente poder-se-á dizer que esta afirmação é verdadeira. Kisshomaru é o terceiro filho varão (de um total de quatro ou cinco filhos, sem certeza) de Morihei. Os outros dois faleceram precocemente, em crianças. E Kisshomaru só iniciou a prática na adolescência, aos 16 anos, o que faz com que existam afirmações de que o seu interesse no aikido em jovem não era muito por aí além. Além disso, é difícil dizer se M. Ueshiba alguma vez planeou sequer uma sucessão deste género, de pai para filho. Enfim, nada aponta para que a afirmação acima seja verdadeira.

5. Morihei Ueshiba tomou um papel activo na disseminação do aikido pós-guerra.

K. Ueshiba
Também será falso. Os verdadeiros responsáveis pela disseminação do aikido no pós-guerra terão sido Kisshomaru Ueshiba, Koichi Tohei e Gozo Shioda (com publicações de livros, demonstrações e organização técnica e pedagógica).

O termo «aikido» foi adoptado, burocraticamente, em 1942, ano em que M. Ueshiba se retira para Iwama. Desta data em diante O'Sensei dividia o seu tempo entre Iwama e Tóquio (e outras viagens pelo Japão) pelo que papel activo na disseminação do aikido não teve muito, a não ser um papel de inspiração (não menos prestigiante, acrescento) para os praticantes da época. Inclusive, parece que O'Sensei nem sempre era bem-vindo ao Hombu Dojo, não só pelo seu carácter irascível mas também por ser crítico com a instrução dada na Aikikai.

6. Instrutores de aikido no pós-guerra estudaram directamente com Morihei Ueshiba durante largos períodos de tempo nos anos 50 e 60.

Dependerá sempre do que é que cada um entende por largos períodos de tempo mas dificilmente, de 42 em diante, poder-se-á ter sido aluno directo de O'Sensei durante «largos períodos de tempo», ainda para mais com a sua retirada para Iwama e com a sua presença intermitente e aleatória em Tóquio. No entanto é preciso ter cuidado aqui pois poderá ter tido deshis que viajaram juntamente com ele despendendo, assim, tempo com M. Ueshiba e, desta forma, poderão ter obtido um contacto mais próximo com O'Sensei.

Há outros pontos lançados a lume por Stanley Pranin mas com os quais ou não tenho tanto interesse ou pura e simplesmente não conheço e não tenho nada a dizer. Mas nada que uma investigaçãozinha pelo Aikido Journal não nos dê mais algumas respostas ou possíveis respostas.

Enfim, eu tentei jogar o jogo do Stanley Pranin. Pranin promete manter a chama viva e continuará a publicar nos próximos tempos mais material acerca destes pontos por ele invocados tentando explicar aquilo que, através do trabalho por ele realizado, lhe foi dado a conhecer.

Se algumas matérias são factuais e dificilmente fugirão a uma «realidade histórica», há outras que poderão ser discutidas infindavelmente.

Mas é através da discussão, da pesquisa e da perseverança que se alcança a... iluminação.

Vamos ver o que os próximos capítulos nos trazem!

Links de interesse:

“Common Misconceptions about Aikido History,” by Stanley Pranin
“Whose Aikido Are You Practicing?” by Stanley Pranin
Kobukan Dojo Era (Part 1)
Kobukan Dojo Era (Part 2)
Aikido in the Postwar Years - Part 1: 1946-1956

2 comentários:

Vinicius Brasil disse...

O Livro de Kisshomaru Ueshiba - Uma vida no Aikido, Biografia de Morihei Ueshiba - da Editora Pensamento-Cultrix ajuda muito a entender o desenrolar do Aikidô e a relação do Fundador, de seu Filho Kisshomaru e a evolução do Aikidô. Refere-se também aos treinamentos do Fundador em outras artes, aos patrocinadores do Aikidô, aos outros herdeiros do Ô-Sensei e sua relação com outros mestre como Jigoro Kano, dentre outros. Vale a pena ler.

André disse...

Vinicius, muito obrigado pelo comentário.

De facto não tenho esse livro mas tenho que o adquirir o quanto antes... :)

abraço