terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Sempai-Kohai

No aikido existem algumas dualidades de conceitos. Alguns duos. Os mais evidentes são o irimi versus tenkan. O céu versus a terra (tenchi). O omote versus o ura. O tori versus o uke. No fundo, a presença deste Yin e Yang, acaba por ser constante, ainda que por vezes passe despercebida. Este é claro, o grosso modo. Os extremos! Mas nem só de extremidade o aikido é feito, mas, sem dúvida que no plano da aprendizagem, das bases e da compreensão inicial do que raio é que vem a ser isso do aikido, extremar estes conceitos e diferenciar o preto do branco ajuda a entender melhor o cenário global, ainda que seja somente numa primeira fase (primeiros 20 anos? Hehe).

Mas há pelo menos mais um duo. O de sempai versus kohai. Simplificadamente sempai significa o aluno sénior, como chama o sensei Stefan Stenudd no seu glossário de aikido. Já kohai, por oposição, significa o aluno júnior. É isso.

Tal como na sociedade e na vida de todos nós,(surpresa das surpresas!) existe no aikido algo chamado de hierarquia. Esta hierarquia passa numa primeira fase pelo evidente estatuto exibido por um qualquer cinturão que um indivíduo tenha (ainda que existam escolas que estão à margem desta matéria, do uso de cintos ou graduações definidas).

Contudo, e cinturões à parte existe, se podemos chamar assim, uma sub-hierarquia que é precisamente esta do sempai-kohai. Ao contrário dos cintos, esta não é visível, não está escrita nas testas de ninguém e nem se pode sequer adivinhar. Não: esta sente-se, vive-se, pratica-se, executa-se e exerce-se. Sem pudor e com muito coração.

Tentando exemplificar: tirando o meu sensei, que a par de ser meu sensei é meu sempai também, é meu sénior (não de idade, não de cinto (!) mas de quilometragem aikidoca), há mais dois grandes sempai que tive. Infelizmente, já não mais praticam, pelas mais diversas razões, mas foi com eles que durante bons anos pude aprender, compreender e crescer de forma mais vigorosa no aikido e na vida. A Ana e o David. Senhores de uma técnica invejável e senhores de uma alegria a praticar em cima do tapete também ela invejável. Para além destes meus sempai, mais marcantes, por assim dizer, havia um outro. O Miguel. O Miguel volta e meia também deixou de praticar, contudo, para aí há um ano, dois, voltou ao dojo. Ele, já chefe de família e pai de filhos (e eu quase com idade para ser filho dele) surge subitamente num treino. Sorrio de uma ponta à outra: diabos, é um sempai meu, daqueles da velha guarda! Daqueles que tem tanto para me ensinar, que conhece caminhos ocultos ou ainda não descobertos por mim e que anseio por dominar mais dia menos dia. Nesse dia, em que ele aparece no dojo, já eu não era mais aquele puto charila de que ele se lembrava. Já também não era mais um kyu. Agora, eu já era 1º dan. O primeiro cinturão negro. Ele, 1º kyu. Cinto castanho.

Sabendo que tradicionalmente nos cerimoniais de começo e fim de aula os alunos sentam-se da esquerda para a direita, por ordem crescente de graduações, eu, nesse dia, não consegui ser o tipo mais à direita. Não não não! Durante anos e anos sempre eu tive à esquerda do Miguel. Eu hoje sou mais graduado, em cinto, que o Miguel, mas certamente não deixei de ser kohai dele, seu júnior. E, por esse facto, o meu lado direito será sempre dele, e dos meus sempai.

Enfim, a relação entre sempai e kohai é essa mesmo. No plano do visível uma coisa tão simples como ceder o lugar de maior destaque do dojo a quem de direito o merece, já no plano do emocional, saber que é com eles, com os sempai, mostrando sempre respeito e acima de tudo gratidão por serem os nossos "padrinhos" do aikido, que podemos ansiar aprender mais e mais e mais.

Hoje, acontece um pouco mais ao contrário. Pessoas que têm idade para ser às vezes meus avós, são minhas kohai. Eu, no melhor que consigo oferecer e dar de mim, tento ser sempre o melhor sempai possível para eles, kohai. O aikido é feito justamente desta entreajuda. Mas sem sobrancerias, sem altivez ou desprezo pelos hierarquicamente abaixo. Sem, também, submissões tolas para os hierarquicamente acima.

Os kohai são importantíssimos. Serão os futuros sempais dos kohai de amanhã. Mas atenção que sem esse guia, acima de nós, mais sapiente, mais experiente - o sempai - o nosso caminho no aikido fica mais atribulado. O técnico, o mental e até o espiritual.

Bem haja à dualidade sempai-kohai e àqueles que nela humanamente fazem parte desta.








Líder

Cito o site do Luís Freitas Lobo para mostrar aqui um vídeo do treinador do Barcelona, Guardiola, onde temos a oportunidade de saber o que diz ele aos seus jogadores em situações delicadas, como era neste caso, num 0-0 após os 90 minutos contra o Shakhtar, havendo ainda um prolongamento por disputar.