quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Harmonia no espaço, no tempo e no coração


O Último Samurai


«Imaginem três situações, todas elas numa paragem de autocarro: uma onde um indivíduo que se atrasou tem que correr, correr, correr para a paragem para conseguir apanhar o autocarro a tempo. Consegue, mas fartou-se de correr. A segunda, um outro indivíduo, chegou à mesma paragem com imensa antecedência. Depois de muito esperar, lá apanhou o autocarro. Mas pagou a factura da espera interminável. Finalmente, imaginem a terceira situação: um indivíduo, inclusivamente já com uma certa idade, sai de casa, caminha, caminha, caminha, ao seu ritmo, até alcançar a paragem e, no mesmo momento em que chega o autocarro o senhor entra na carruagem e segue o seu percurso. Não chegou nem atrasado nem teve de esperar. Não. Teve um ma-ai perfeito.»


Esta foi a melhor definição que já ouvi do conceito ma-ai, do ponto de vista da comunicação e percepção da mensagem. Um conceito muitas vezes referido na prática do Aikido.

Refere-se o ma-ai quando se quer falar da distância de segurança entre os dois praticantes que estão frente a frente. Se for demasiado longa, dificilmente conseguir-se-á executar uma qualquer técnica. Se for demasiado curta, podemos incorrer em riscos de segurança incalculáveis. Por isso por vezes se diz bom ma-ai! ou mau ma-ai!, estão demasiado próximos! E pronto; fica-se por aqui.

Mas não. O ma-ai é muito mais que isso. É também a distância de segurança ou distância harmónica não só no espaço, como também no tempo e até no coração.

Se no espaço acabo de dar um exemplo prático, quanto ao tempo ou à distância espácio-temporal, lá em cima está um excelente exemplo.

Mas como o sensei Tamura outrora disse, um grande Mestre de Aikido que nos deixou recentemente, o ma-ai também diz respeito ao coração. Não irei exemplificar. Deixo ao critério de cada um. Fica só a referência que o ma-ai também é coração e que também nele pode existir um bom ou mau ma-ai.

Quanto à citação livre que fiz no começo desta entrada, essa é do sensei António Vieira, cujos ensinamentos transmitidos recentemente num treino no qual estive presente ecoam sempre na minha cabeça com muita constância.

Por isso, e pela experiência partilhada, domo arigato sensei.

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