quinta-feira, 19 de agosto de 2010
Sul, mar, polvos, navios e um(a) comandante
Faz uns dias jantava-alancharava eu mais uns amigos num restaurante no sul do país. Foi maravilhoso. Senti-me completamente dentro de um navio a navegar em alto mar, com os seus percalços, mas sempre a ultrapassar os obstáculos que se lhe deparavam. Os obstáculos, neste caso, eram inúmeros: desde os tripulantes a não saberem falar o inglês para dialogar com os passageiros, a não levantar atempadamente o dispensável de cima das mesas ou vir no pratinho das manteigas uma delas já aberta, entre outros.
Mas o mais maravilhoso era que esta embarcação era comandada por um(a) verdadeiro(a) General, ou, neste caso, porque falamos do mar, um(a) verdadeiro(a) Almirante.
Era a Dona Fernanda. Almirante do navio. Tudo passava por ela. Tudo com um respeito enorme por ela. Tripulação e passageiros. Incrível!
Quando a manteiga aberta voltou para trás, lá para o convés principal do navio, ouvia-se a Almirante Fernanda a barafustar, a estrebuchar mesmo com a sua tripulação de uma forma tal que parecia que eu próprio, cá fora sentado, estava também a levar na tola. «Mau serviço!» vociferou ela.
Incrível a forma como, a Almirante Fernanda, impunha o seu respeito, sendo ao mesmo tempo a força motriz de toda a máquina. Aquela embarcação, sem ela, não chegaria a bom porto de todo. Sempre com as suas tropas sob controlo, e sempre com estas últimas a prestarem-lhe contas da forma mais genuína e sem segundas intenções possíveis.
Notava-se a olhos vistos que a Almirante Fernanda tinha mesmo um verdadeiro orgulho naquela sua máquina, naquele seu navio. E o mais engraçado é que, assim que os passageiros ali se sentavam para usufruir dos serviços da Almirante Fernanda, eram automaticamente inundados e transportados para dentro do navio, pertencendo doravante (até se irem embora) à viagem que estaria prestes a começar. Naquele momento, depois de nos sentarmos, estávamos todos no mesmo barco, rumo ao mesmo objectivo.
Mais engraçado ainda era que a comida nem era a melhor do mundo. Pedi um arroz de polvo. Estava bom mas um pouco salgado demais. Mas que diabo, a viagem estava a ser cinco estrelas. O sal em excesso no arroz de polvo não anulava, de todo (!), o prazer do resto da viagem. «Acho que este deve ser o único restaurante onde se alguma coisa tiver manhosa, até me sinto mal em dizer» confessava eu para os amigos de viagem.
No final, para pagar a conta, um dos meus amigos, como naturalmente se faz em qualquer restaurante do país, dirigiu-se ao homem da tripulação mais próximo para pagar o que era devido. «Não, não, não! Isso das contas só com a D. Fernanda», disse. Tudo resumido.
Fazia-me lembrar as mulheres, esta embarcação. Onde nem sempre aquela modelo, aquela mais bem feitinha e mais xpto é aquela que mexe mais connosco e aquela que transmite mais magia.
Este navio, esta embarcação, este restaurante não era a super-modelo dos restaurantes, mas diabo que era sem dúvida dos melhores, dos mais divertidos e dos mais genuínos onde já passei o meu tempo. Um verdadeiro restaurante português. Uma verdadeira caravela portuguesa. Casar-me-ia, por isso, com ela.
Obrigado Almirante Fernanda.
Publicado por
André
Etiquetas:
Pessoal
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2 comentários:
Assino por baixo. 5*, so faltou fazer pub ao navio: "Casa de pasto o Zé" em Lagos.
Xi, que facada, eu a manter tudo em mistério.. :) Mas é isso mesmo, o Zé. Fica feita a pub ;)
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