quarta-feira, 3 de novembro de 2010

O 12º Trabalho


Dissertação da autoria do convidado
Paulo Reis Costa



A minha consciência diz-me que tenho mesmo de vos mencionar que sou um enviado do Olimpo em busca da glória ao cabo do meu 12º Trabalho – “Harmonizar todas as energias do Universo”. Só depois de concluir esta tarefa dantesca é que obtenho um lugar cativo “inter pares” no Olimpo.

O meu verdadeiro nome é Alfa Zema e sou filho da deusa Nike (deusa grega da Vitória) e do deus Dionísio (Baco para os Romanos e para os amigos). Nasci de parto natural, porque Július Caius Caesar ainda não tinha nascido e como tal todos os partos até essa altura eram… normais.

Outrora conhecido em perigos e guerras esforçados por Erminio O Libertador da Germânia, por Gengis Khan - grande estratega mongol que dominou praticamente toda a Ásia, também por George Smith Patton, comandante do 3º Exército dos EUA na Operação Cobra… entre outros… e só uma vez por “Belle Dominique”, mas isso porque perdi uma aposta e… isso agora não interessa para nada.

Voltando ao meu 12º Trabalho … Foi-me indicado que existia entre os mortais uma arte marcial a que chamam de AIKIDO e que o seu último intento é harmonizar a energia universal. Óptimo, era isto mesmo que eu procurava!!!

Todavia as coisas não são bem assim… senão vejamos…

1ª Aula


Desconfiei que a coisa não ia correr lá muito bem porque ao entrar no Dojo dei de caras com pessoal com trajes um pouco estranhos. Pensei "Bom! A partir de agora, todo o cuidado é pouco...", mal sabia eu...

À hora marcada lá apareceu ele - o grande Sensei. Sorridente e confiante.

Depois da troca de cumprimentos e da conversa de circunstância começámos as saudações seguidas por um aquecimento com uns exercícios que, a julgar pela cara do restante pessoal, eram de um gosto algo duvidoso. Anquinhas para um dos lados, bracinhos para o outro, mas do mal o menos. Pensei para comigo, isto não pode piorar. Diz-me o Sensei "Ai não pode?". Até me arrepiei todo, mas o Sensei também lê os pensamentos? Pediu-nos então que executássemos algumas sequências de esquiva em velocidade. Como é meu apanágio, dei o meu melhor. O Sensei pestanejou duas vezes e perguntou se não havia por ali nenhuma faca. Mau! Mas será que a minha técnica é assim tão ruim que ele prefere suicidar-se a corrigir-me? "Calma Sensei!!!", disse-lhe eu, "Eu consigo fazer melhor... dê-me mais uma oportunidade...". Um pouco mais adiante no treino e perante a ineficácia das minhas esquivas, o Sensei, bondosamente, resolve exemplificar qual a diferença entre uma técnica feita por mim (ou uma batata) e uma técnica executada por um perfeccionista da matéria… enfim… e assim acabou a aula com um estranho dizer “Ali Gato Goza Aí Mais Tarde!!!” - Hummm !!! Das duas uma, ou é um código qualquer para combinar um jantar para mais tarde… ou é alguém que me quer fazer a folha depois da aula.

Estágio


Dias depois… Tive a oportunidade de estar presente naquilo a que os mortais chamam de “estágio”, desta feita, com um Sensei que vinha lá da terra da Flandern

Da Flandern ou não, Sensei que é Sensei, tem a obrigação de prestar atenção a todos os seus alunos e, assim sendo, ele decidiu que um tal de chosen também tinha direito à vida (ou seria à dor?) e chamou-o para exemplificar umas técnicas.
Nunca tinha visto uma pessoa mexer-se e remexer-se tanto. Ele era "técnicas" nas costelas flutuantes, eram "chaves" aos pulsos, eram "toques" nos tendõezinhos mais tenrinhos que o corpo tem. Foi uma maravilha. Quem reparasse atentamente na cara do chosen podia aperceber-se do quão gratificante a experiência estava a ser.
Ele era chosen para a esquerda, chosen para a direita, chosen para cima, chosen para baixo... como dizia aquele anúncio da água "...tudo com chosen.. chosen com tudo..."

Foi então que uma mão se pousa no meu ombro e uma voz de um outro sábio Sensei me diz “Meu rapaz, AIKIDO é Amor, não duvides!!!” … Eu acenei com a cabeça e disse “Sim! Sim! Sensei… AIKIDO é Amor”… Livra… Pensando eu que me estava a livrar de uma demonstração de afecto… só que à estranha voz de coque iôô o sábio Sensei senta-se à minha frente… pronto, lá vou eu enfardar, pensei … Mas não, gentilmente o Sensei começa por explicar-me o que é o KOKYU HO… “Pensa que estás a agarrar numa caneca de cerveja com as duas mãos… “
Boa! haja alguém que fala a minha linguagem.
“…e que queres levá-la à boca … depois apontas os teus indicadores às axilas do teu oponente…” Espera lá… o meu pai faz isto com uma caneca de verdade e ao fim de 8 rodadas cai sozinho!!! Hummm… Penso que estou no caminho certo…

Apraz-me dizer que quando for um grande mestre hei-de seguir estes ensinamentos.



Dissertação da autoria do convidado
Paulo Reis Costa


Nota do blogueiro:

O Costa, como é carinhosamente tratado pelos seus companheiros de treino, segundo julgo saber. O Paulo não pratica há muito tempo. Pouco mais de um ano, penso. Mas lembro-me perfeitamente da primeira vez que treinei com ele. Foi no Clube Desportivo Pinhalnovense, em Pinhal Novo, pois claro.

Apesar de ainda novato na coisa, na retina ficou-me o seu genuíno entusiasmo e sede em aprender mais. Mas não de uma forma desmesurada, como facilmente muitas vezes se cai nesse erro. Não. A sede de aprender é muita, mas tem a tranquilidade de saber que é necessário dar um passo de cada vez e de que nada serve meter a carroça à frente dos bois.

Parecendo que não... é uma característica essencial para que um dia mais tarde, quiçá, o Paulo possa vir a ser um grande mestre, efectivamente. Se nunca desistir, eu cá não tenho a menor dúvida.

Obrigado Paulo, pelo divertidíssimo texto. Mesmo! :)

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