quinta-feira, 14 de outubro de 2010
Aikido e a Luz
Dissertação da autoria do convidado Alexandre Francisco
Biliões de pessoas têm Messenger e utilizam-no de modo a poderem comunicar com amigos, conhecidos, familiares, etc. Normalmente durante essas comunicações alguns de nós não utilizam o seu nome próprio como apresentação mas sim frases ou algum tipo de "nicks".
Nos últimos tempos tenho-me apresentado no meu Messenger com a seguinte frase: "Todos caminhamos em direcção à luz... até lá… vive!".
Para alguns de vocês esta frase não é nova, pois por motivos de alguma infelicidade teve algum mediatismo nos tempos recentes. Esta frase veio como publicidade a um filme de nome Contraluz do realizador Fernando Fragata. Filme este que foi publicitado pelo já falecido actor António Feio.
Um trailer sobre o filme correu a Internet e as televisões, onde o António Feio nos transmitiu a ideia de aproveitarmos a vida, de apreciarmos cada momento, de nos ajudarmos uns aos outros sem deixarmos nada por fazer nem nada por dizer neste tempo em que cá andamos durante a vida. Uma mensagem forte muito devido à situação específica que o actor estava a passar. Infelizmente é assim. Ainda no mesmo trailer e após as palavras do actor, o realizador oferece-nos um conjunto de frases que realmente dão um certo impacto a quem as lê. Eu passo a transcrever:
“Daqui a cem anos a população actual do mundo estará morta! Os nossos familiares, os nossos amigos, os nossos filhos, tu e eu.
Sete mil milhões de seres humanos desaparecerão para sempre.
Todos caminhamos em direcção à luz. Até lá... VIVE!”
Estas palavras mexeram comigo! Como se algo me tivesse abanado. Nesse dia olhei para o meu filho com outros olhos. Claro que um pai ama um filho. Mas nesse dia olhei para o Fábio e amei-o de uma forma presente e consistente.
Esta ideia realçou-se ainda mais ao saber de um colega de trabalho que com 41 anos sofre de cancro do pâncreas. Isto tudo tem-me feito pensar em muitas coisas, que ao longo da vida inundam a mente a muita gente. Não sou uma pessoa sem fé mas confesso que não sou das pessoas mais crentes, como tal, a ideia de morte faz-me pensar também no sentido da vida.
Que andamos cá a fazer? Até quando cá andaremos? A verdade é que ninguém pensa verdadeiramente que vai morrer. Não aproveitamos a vida em condições. Mas afinal o que é isto de aproveitar a vida? Se perguntarmos a muitas pessoas, elas responderão que o grande objectivo de vida é… ser feliz. Claro que isto será sempre subjectivo e cada um de nós terá uma ideia própria do que isso significará.
Quando tinha 18 anos conheci uma mulher que me disse uma frase que jamais esquecerei:
“Na vida não existe felicidade mas sim momentos de felicidade”.
Tenho pensado nisto tudo e nas coisas que verdadeiramente me proporcionam os tais momentos de felicidade.
Desde 2002 que descobri algo que me tem “oferecido” momentos de verdadeira felicidade.
Para algumas pessoas que leiam este meu texto não será muito importante eu explicar aqui técnicas e outras coisas mais que se fazem concretamente na prática do Aikido.
A verdade é que no momento que inicia uma aula, o meu cérebro faz um reset a todos os problemas e a tudo o que se passou para trás desse momento. Sinto-me livre, como se estivesse noutra dimensão. Como se aquela hora e meia de treino fosse um oásis no meio da minha vida onde tudo é calmo pacífico.
Como é possível uma arte marcial transmitir paz? No início da minha prática apenas me interessei pelas ”chaves”, “torções” e tudo que na minha ideia me pudesse ser útil em caso de auto-defesa.
Hoje passados alguns anos começo a ver que o Aikido é realmente aquilo que um japonês de fraca estrutura física afirmava ser.
Aikido é amor
Esta frase não tem nada de lamechice pois como todos sabem existem imensos tipos de amor. E no Aikido existe um dos maiores tipos de amor que posso conhecer: o amor ao próximo.
Quando fala no próximo, não me refiro a alguém em particular mas sim a tudo o que nos rodeia.
Morihei Ueshiba criou uma arte marcial onde não existe agressão nem competição e que a única competição que existe é a que praticamos connosco, de modo a melhorar cada vez mais.
Um praticante de Aikido não ataca, porque não tem na sua personalidade a vontade de querer ser melhor que o outro.
Por isso pode ser praticada por todas as idades e estruturas físicas, não havendo distinção de pesos entre os praticantes.
O aikidoca trabalha com a energia de quem o ataca. É a pessoa que ataca que escolhe o caminho que se seguirá. O objectivo do aikidoca não é prejudicar fisicamente o atacante mas sim retirar-lhe a energia do mesmo, impossibilitando o confronto.
Claro que se quisermos infligir estragos físicos, é fácil. Mas como costumo dizer nas minhas aulas: ensinar alguém a magoar é fácil… ensinar alguém a controlar o outro sem magoar é o difícil…
Uma das coisas que me apaixona no Aikido é esta “capacidade” de controlar uma situação de violência sem exercer danos físicos no autor da mesma.
AI-KI-DO
O caminho que leva à harmonia das energias
A ideia é simples (mas difícil, hehe), basta pensarmos em harmonizarmo-nos com a energia do atacante não criando bloqueios.
Tal como em matemática: 9+1=10 mas 7+3 também e 5+5 também e etc., etc.
Isto pode e deve também ser passado para fora das aulas, pois Aikido é feito em todo o lado a toda a hora com todos os que nos rodeiam. O princípio de não atacar e de nos harmonizarmos com quem nos ataca é algo que se fosse feito por todos com mestria, nos traria um melhor Mundo, e claro que se todos exercêssemos o princípio “aiki” seria impossível existir violência…
De forma perfeita e teórica, porque para o conseguir já implica um grande nível de mestria, a ideia é o atacante ver, que mesmo sem ser magoado de forma grave, pode-se cansar porque não terá a mínima hipótese de concluir com êxito a sua violência.
Por isso reafirmo que Aikido é Paz e Amor…
E afinal estamos todos a caminho da tal “luz” seja ela o que for... ou aliás… mesmo que nem exista!
Com paz e amor… não seria essa a melhor maneira de fazermos este caminho?
Saudações AIKI.
Dissertação da autoria do convidado Alexandre Francisco
Nota do blogueiro:
Alexandre Francisco. Casado, um filho. Quase quarentão (já faltou mais!). Submarinista há 15 anos com orgulho. A escrita não é o seu forte, diz-me ele. Mas é o seu coração, digo eu. Imponente ao vivo. De uma energia imensa e vivacidade genuína sem igual.
O Alexandre pratica Aikido desde 2002. Aluno de um dos maiores conhecedores de Aikido e Budo em Portugal, o Alexandre tem uma classe própria com quase duas dezenas de praticantes na Siderurgia Nacional. Sendo uma verdadeira estrela nos media nacionais já teve o privilégio de aparecer na RTP ou na revista Cinturão Negro. É ainda administrador do fórum online Aikido Portugal.
É caso para dizer: Alexandre, o Grande.
O meu muito obrigado pela tua contribuição :)
Publicado por
André
Etiquetas:
Aikido
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário