segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Desconcertado

Sempre me movi mais ou menos nos mesmo meios (não acontece assim com todos?).

Sendo certo que mesmo dentro dos mesmo meios há gentes diferentes a verdade é que, no limite, a tendência é para uma homogeneização de princípios, atitudes, visões, cultura.

Esses princípios, atitudes, visões, cultura e modos de estar podem é alterar-se de meio para meio.

E nenhum de nós se move num só meio, pois claro. E mesmo tudo isto que disse pode «nem ser bem assim». Certo!

Recentemente, no entanto, tenho estado em contacto com alguém que sai do meu campus tradicional de vivência. Alguém que me desconcerta (no bom sentido, vá).

(O que é isto do bom sentido? Porra.)

Espera. Fui ver a palavra ao dicionário. A quinta definição de «desconcertar» (a última, ouch) diz que «descompõe». É isso mesmo! É que descompor é desarranjar, desornar. E este homem é mesmo isso.

Mas a primeira definição diz: «fazer perder a boa disposição de».

Não, não, não.

É o contrário. Este homem é desconcertante mas não faz perder a boa disposição de. Não: é precisamente é ao contrário!

O homem é dramaturgo/encenador/actor.

Não é o primeiro actor que conheço mas dramaturgo/encenador, possivelmente, é.

Então o que é que acontece? Acontece que estou a tentar fazer teatro com este homem. Não porque queira ser actor ou famoso ou o raio que o parta. Nah. Quero é representar. Antes disso, queria aprender a representar e aprender o que é fazer uma peça a sério. Tenho a certeza que me dará um gozo do caraças. Aprender dá-me gozo. Se for aprender algo por que tenho interesse, tanto melhor.

Mas voltando ao homem.

É desconcertante. É eufórico (acho que está clean, a sério), é um «diabo à solta».

Mas o que mais me impressiona é a sua capacidade de, através do uso da palavra, desconstruir os dogmas, maneirismos e tiques de educação que temos. O politicamente correcto, talvez.

Qualquer acto que façamos ou qualquer coisa que digamos é objecto de desconstrução. Puxando ainda mais para o limite, este homem mostra de 20 em 20 segundos o quão insignificante um acto nosso pode ser. E é mesmo verdade.

Fervilha criatividade por todos os poros.

E mesmo que porventura não leve a maratona até ao fim (espero levar) já valeu a pena as (poucas) vezes em que estivemos juntos na mesma sala. O homem faz-me sentir como mais ninguém me faz.

E escrevi isto correndo o risco de parecer «traveca», como veio à baila a propósito de um Romeu e Julieta encenado por ele em que o Romeu calhou ser antes uma Romeu.

«Mas foda-se», a César o que é de César, disse Cristo e bem.

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