segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Seiichi Sugano Sensei


(1939-2010)


O Sensei Sugano passou por Portugal durante cerca de uma década. Foi sempre bem recebido e sempre gostou de cá vir, segundo julgo saber.

Era um samurai, na sua essência. Um guerreiro. De poucas palavras, de poucas emoções. Muito poker face, diria. Tal qual como um "bom" japonês, pois claro.

Nem mesmo depois de lhe ter sido amputada uma perna o Sensei deixou de praticar e leccionar Aikido ao mais alto nível. E é preciso não esquecer que leccionar Aikido ao mais alto nível é sinónimo também de uma responsabilidade inerente que o levou a viajar ano após ano de cidade em cidade, de país em país. Para a idade que já levava não seria certamente tarefa fácil.

Lembro-me do Sensei como tendo um Aikido poderosíssimo. Não entrava cá em lamechices ou indolências. As suas mãos e braços pareciam pedra! Todo ele, aliás, parecia uma imensa montanha: inamovível.

Lembro-me também de uma vez em que me chamou como uke para demonstrar uma técnica. Um irimi nage. Daquelas em que se entra pelo outro gajo adentro. Foi a vez mais extraordinária em que pude atacá-lo. Isto porque em cerca de, digamos, dez a quinze segundos pôs-me completamente esgotado fisicamente. Exausto mesmo. Foram quinze segundos que pareceram uma eternidade. Fui projectado com violência e potência dando uns valentes pinotes no ar. No final fiquei com a sensação que tinha acabado de correr a meia maratona.

Quando voltei para o meu lugar só me recordo de o meu Sensei de há quase quinze anos me dizer: «porra André, nunca te tinha visto cair assim, dass...». Isto era Sugano.

Ainda na mesma técnica, recordo hoje com imensa alegria, um momento único em que Sugano me atinge na face com o seu punho cerrado. Não porque se tenha esforçado muito ou esticado todo para o efeito para me atingir. Não. Antes, pura e simplesmente conduziu-me para o local exacto e depois em conformidade entrou por mim adentro. Um puto ágil, de 20 anos, ia-se escapulir daquele irimi nage? Qual quê. Pimbas, levei logo. Sem sangue claro, sem sangue. E o Sensei, sem perna, não esquecer.

Neste mesmo treino fazia eu exame. Fi-lo, já esgotado por sinal, tendo uma duração de cerca de trinta minutos. Dizem as más-línguas que durou mais. É possível. Mas isto, era Sugano.

O seu trabalho com armas também era positivo. Muito cirúrgico, no entanto. Nada de grandes espalhafatos. Pelo menos não connosco, mancebos.

Sensei Sugano que difundiu o Aikido um pouco por todo o mundo, começando pela Austrália e depois Malásia, Bélgica, Luxemburgo, França, Portugal (e possivelmente outros países) e terminou em Nova Iorque como sua casa-mãe.

Do meu ponto de vista muito particular, como nota menos fica o facto de não ter sido possível recebê-lo em nossa casa (Portugal) mais do que uma vez por ano. Assim não tivesse sido e teríamos sugado muito mais ensinamento dele. Mas claro, não é uma problemática só de Portugal. Assim acontece noutros países em relação a estes grandes mestres.

E por ter sido um grande mestre, por ter sido aluno directo do fundador, por ter pertencido a um leque ímpar onde figuram grandes mestres da história do Aikido e por ter abraçado Portugal e os aikidocas portugueses durante tanto tempo, aqui deixo a minha sentida e singela homenagem a Seiichi Sugano Sensei.

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